Pai tempo
Enquanto contemplo meu tempo
Vejo-me-vejo crianças andantes
Pais crianças crescidas
Crianças crescidas sem pais
Com tempo meu tempo repõe
Imagens, sons,
Fulguras, tantãns,
Jogos, palavras,
Caçadas,
Desejos sem tento
Enquanto contemplo meu tempo
Vejo-me-vejo crianças andantes
Pais crianças crescidas
Crianças crescidas sem pais
Crianças ao lento
Sem tempo
Sem passado
Apenas movimento
Só ontem o vento
Frio que passou
Pai anti-herói
I
Mal sabido filho
Pai-criança se tornou
Sabe aqueles almoços de domingo que detestavas?
Sabe aquelas brincadeiras infinitas que não querias abandonar?
Sabe dos teus amigos inseparáveis?
Sabe dos churrascos e feijoadas na casa do pai dos teus amigos?
Sabe da inveja do amigo pelo pai melhor que o teu?
Sabe moleque?
Mal sabido filho
Pai-criança se tornou
Herói de si mesmo
Seu rebento um troféu
Ele só não sabe como começou
Aquela não-história
No porão da Casa-Grande
Ou no coito na Senzala
Talvez sua história não resista no tempo
Talvez sua história seja um traço
Ou talvez sua história esteja apenas começando.
II
Serás pai teu desígnio viril
Honrarás tua ascendência
Para tua descendência retribuir
Prosseguir
Pai de Domingo
Corre no cimentado quente pés tostando
Às vezes naquele piso frio de varanda
Ri alegre nem precisa saber por que
Meio bobo meio triste
Um sorriso contido
O pai de domingo
Assiste
Parquinho no shopping, almoço, ou um sorvete e uma pipoca?
Pai de domingo
Assiste
Pai de domingo
Pai de um dia
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