4.2.10

Nós Podemos? (2)

Depois de falarmos para o PT (veja a postagem anterior), agora falamos com o DEM. (Falamos, isto é, força de expressão, para estes questionamentos que envolvem interesses coletivos da população negra feitas por personalidades negras).
Transcrevo uma mensagem do jornalista Roberto de Carvalho.

UM DURO APRENDIZADO NEGRO

ROBERTO DE CARVALHO*

Há dez anos, o Congresso Nacional não consegue aprovar o Estatuto
da Igualdade Racial (EIR), que estabelece mecanismos importantes de ascensão
negra no serviço público federal, e neste caso, se aprovado, pode desencadear
políticas idênticas nos 27 estados e 5.600 municípios brasileiros.

Assim, parte da dívida histórica da sociedade brasileira com a
comunidade negra – 75 milhões de pessoas - poderia ser sanada, pois, como todos
os estudiosos reconhecem, após a abolição, o negro foi jogado ao “deus-dará”, e
acabou incorporando um estereótipo terrível: preto, favelado e marginal.

Foi contra este estereótipo que o antigo PFL – hoje DEM – durante
a campanha de César Maia ao governo do estado, em 1998, se permitiu a discussão
em suas hostes partidária. Neste sentido, no Rio de Janeiro, o então PFL percebeu
a importância do voto negro e de sua história de eterno cidadão de “segunda
classe”.

Era um fato constatável a olho nu e também referendado pelo IBGE,
cujos indicadores - censo de 1990 - mostravam que o negro era a categoria
racial mais atrasada do país, sendo campeão dos índices negativos.

Com o apoio do então deputado federal Arolde de Oliveira, foi
criado o Comitê Afro-Liberal, grupo negro de apoio à campanha de César Maia ao
governo estadual. Pela sua qualificação, o grupo acabou se tornando uma referência
no movimento negro. Assim, em 1998, convidado pela executiva nacional do
partido, esteve em Brasília discutindo a possibilidade de o Afro-Liberal se
espalhar em todos os estados sob a coordenação do antigo PFL.

Naquele momento, o fato levou os militantes do movimento negro
fluminenses a ficarem perplexos e sem alternativas: como um partido conservador
estava na frente deles em políticas públicas de recuperação das desvantagens
históricas entre negros e brancos? Por que, eles, do movimento negro
tradicional, não apareciam na mídia como o Afro-Liberal? Reuniões e mais
reuniões destes militantes afro-liberal foram feitas e, mesmo assim, não
conseguiam entender este momento importante na conjuntura política de 1998.

Onze anos depois deste importante movimento – o Programa de
Governo do Afro-Liberal (1998) continua sendo uma referência para o movimento
negro no Rio, pois, ali, foram elencados grandes propostas de trabalho para
eliminar a discriminação e incluir o negro nas demandas do desenvolvimento
social.

No entanto, o quê este importante grupo projetou – políticas
públicas para a comunidade negra – vem sendo obstacularizado no Congresso
Nacional pelo próprio DEM, antigo PFL, principalmente na figura do senador
Demóstenes Torres. Este, resistente a políticas para negros, por
conseguinte, desconhece as incursões do
partido pelo lado racial no final dos anos 1990.

Neste momento, é fundamental, na minha avaliação, que as
lideranças do DEM entendam uma história: no Rio, pelo menos, o partido estará
apoiando uma negra, Marina Silva, à Presidência da República.

Neste caso, a resistência partidária no Congresso Nacional contra
o Estatuto da Igualdade Racial (EIR) é uma bola fora pesadíssima na campanha
fluminense do DEM.

Por exemplo: como Marina, que é negra, irá responder a uma indagação
da imprensa segundo a qual um dos partidos que lhe apóia no Rio resiste
tenazmente a implementação de políticas para uma comunidade que ostenta os piores
índices de negatividade em cidadania ?

Acreditamos, neste momento, ser fundamental, que as lideranças do DEM
mergulhem nas eleições de 1998-1999, no Rio, onde o Afro-Liberal despontou.

ROBERTO DE CARVALHO é jornalista e publicitário, um dos fundadores do
Afro-Liberal/ PFL, (DEM).

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails