A Revolta da Chibata: o nosso Potemkin
Por Claudio Camargo
Neste ano pleno de efemérides se comemora o centenário da Revolta da Chibata, rebelião de marinheiros contra a imposição de castigos físicos como punição na Marinha. A revolta ocorreu entre os dias 22 e 27 de novembro de 1910 no Rio de Janeiro, então capital da República, e foi liderada marinheiro de primeira classeJoão Cândido Felisberto (à dir.), que ficaria conhecido como o "almirante negro". Abolidos com a proclamação da República, os castigos físicos foram restabelecidos na Marinha no ano seguinte, prevendo-se "25 chibatadas, no mínimo" para as "faltas graves" - as leves eram punidas com prisão a ferro em solitária, a pão e água por até seis dias. A Marinha era a mais
aristocrática das três Forças Armadas - as duas revoltas da Armada (1891 e 1892) foram contra a República. Enquanto seu oficialato vinha da nata da elite branca, os marinheiros eram, em sua esmagadora maioria, negros e mestiços. Nas viagens ao exterior, os marujos podiam perceber o quanto as práticas dos oficiais brasileiros eram retrógradas. E também tinham contato com movimentos revolucionários: cinco anos antes, na Rússia czarista, ocorrera o levante dos marinheiros no Encouraçado Potemkin contra as péssimas condições de trabalho. Esse motim seria imortalizado por Sergei Eisenstein num filme homônimo de 1925. http://www.youtube.com/watch?v=DL7OWxC7vWI&feature=related
Os marinheiros brasileiros tomaram os encouraçados Minas Gerais, São Paulo, Deodoro e o cruzador Bahia - os navios mais poderosos da esquadra -, que estavam estacionados na baía da Guanabara, e ameaçaram bombardear a cidade. Houve algumas escaramuças, mas o governo do marechal Hermes da Fonseca, tomado de surpresa, aceitou as reivindicações dos revoltosos: fim dos castigos físicos e anistia aos revoltosos. Depois que os marinheiros entregaram as embarcações, o governo prendeu quatro deles sob acusação de conspiração. Eclodiu então outra revolta, desta vez dos fuzileiros navais, na Ilha das Cobras. Eles foram bombardeados impiedosamente, mesmo depois de terem se rendido. Morreram 500 dos 600 amotinados. João Cândido, que não apoiara a segunda revolta, foi expulso da Marinha e, posteriormente, internado num asilo psiquiátrico. Só seria absolvido em 1912, mas ele jamais foi reintegrado à Força.
Sua memória começou a ser resgatada somente nos anos 70, quando João Bosco e Aldir Blanc compuseram a música O Mestre sala dos mares, imortalizada na voz de Elis Regina -
http://www.youtube.com/watch?v=n6-i_XQsxCE - mas, por exigência da censura, os compositores tiveram que substituir "almirante negro" por "navegante negro". Em 2007, foi inagurada uma estátua de João Cândido no Museu da República (antigo palácio do Catete). Mas até hoje a Marinha torce o nariz para o episódio - como os turcos fazem em relação ao genocídio dos armênios. A anistia aos revoltosos só veio em 2008; agora, o presidente Lula batizou como "João Cândido" o primeiro navio fabricado num estaleiro nacional desde 1997.
Os marinheiros brasileiros tomaram os encouraçados Minas Gerais, São Paulo, Deodoro e o cruzador Bahia - os navios mais poderosos da esquadra -, que estavam estacionados na baía da Guanabara, e ameaçaram bombardear a cidade. Houve algumas escaramuças, mas o governo do marechal Hermes da Fonseca, tomado de surpresa, aceitou as reivindicações dos revoltosos: fim dos castigos físicos e anistia aos revoltosos. Depois que os marinheiros entregaram as embarcações, o governo prendeu quatro deles sob acusação de conspiração. Eclodiu então outra revolta, desta vez dos fuzileiros navais, na Ilha das Cobras. Eles foram bombardeados impiedosamente, mesmo depois de terem se rendido. Morreram 500 dos 600 amotinados. João Cândido, que não apoiara a segunda revolta, foi expulso da Marinha e, posteriormente, internado num asilo psiquiátrico. Só seria absolvido em 1912, mas ele jamais foi reintegrado à Força.
Sua memória começou a ser resgatada somente nos anos 70, quando João Bosco e Aldir Blanc compuseram a música O Mestre sala dos mares, imortalizada na voz de Elis Regina -
http://www.youtube.com/watch?v=n6-i_XQsxCE - mas, por exigência da censura, os compositores tiveram que substituir "almirante negro" por "navegante negro". Em 2007, foi inagurada uma estátua de João Cândido no Museu da República (antigo palácio do Catete). Mas até hoje a Marinha torce o nariz para o episódio - como os turcos fazem em relação ao genocídio dos armênios. A anistia aos revoltosos só veio em 2008; agora, o presidente Lula batizou como "João Cândido" o primeiro navio fabricado num estaleiro nacional desde 1997.
De: Cláudio Camargo, sociólogo.
Publicado em 9 de maio de 2010.
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