21.12.14

O estereótipo racial do "samba do crioulo doido"

Eu queria comentar uma boa notícia para vencer essa ansiedade de final de ano diante do repertório de maldades que o nosso racismo se perpetua para metade da população brasileira.

Queria uma boa notícia, uma positividade dessas que a mídia empresarial tempera o nosso dia a dia de acordo com o calendário anual e os seus interesses e que a gente consome, seleciona e decodifica como informação qualificada que postamos nas redes sociais.

Vou rolando a primeira página do jornal na tela do computador, a leitura apressada é inevitável, bem como, a atenção para certas palavras que são marcadores raciais.
Depois que se tornou uma expressão pejorativa "samba do crioulo doido" se torna uma marca de festa jovem em Salvador e Recife, o estereótipo racial repetido se renova

Vejo os colunistas e logo se destaca para mim o título: "Mais um samba do crioulo doido" de Xexéo (oglobo.com) , uma expressão do também jornalista e escritor Sérgio Porto que assinava sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta.

O "samba do crioulo doido" de Stanislaw Ponte Preta foi um samba paródia a uma imposição feita às escolas de samba do Rio de Janeiro para que desenvolvessem temas históricos nos seus carnavais durante a ditadura militar.

O samba foi composto para um musical do "teatro rebolado" e se tornou um sucesso do rádio na época fazendo uma piada de um suposto sambista que misturava fatos e nomes da história e se tornou uma expressão de linguagem.

Há uma tradição jornalística que repete os estilos consagrados especialmente dos cronistas que se tornaram famosos como Stanislaw Ponte Preta.

Daí, como já não se fazem colunistas como antigamente (ironia!), o Xexéo, resolveu associar um lapso de memória que teve numa cônica de carnaval ao "samba do crioulo doido" do Stanislaw, dois bons jornalistas apoiados no mesmo estereótipo do negro incapaz ou incompetente.

Essa forma de humor apoiada em estereótipos raciais que inferiorizam, subordinam ou hipersexualizam homens e mulheres negras tem larga tradição na literatura brasileira e no falar "popular".

É o racismo consagrado, ao qual o negro deve aceitar por tradição e seria cômico, se não fosse trágico, que a repetição do estereótipo é a sua vitalidade e dos seus efeitos, a discriminação negativa.

Não há porque, se achar engraçado que coisas ditas ou escritas sem sentido, por esquecimento ou erro, sejam comparáveis a um "samba do crioulo doido", se bem que, nesse caso, o compositor seja branco (ironia!).

Em que pese ser o "crioulo doido" mal letrado, o "branco que enuncia" não denuncia, mas apenas reafirma o estereótipo racial que transforma o negro numa metáfora social do que é ou está "fora do lugar".

Esta gravação do "Samba do crioulo doido" pelo conjunto musical paulista "Demônios da Garoa" possui o tom debochado em que se evidencia o estereótipo racial.






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