25.4.07

Dia do Índio; fala do negro.

Uma homenagem feita no seriado da Rede Globo “A Grande Família”, em 19 de abril, levou um grupo indígena na casa para um “descarrego”, no Agostinho, na fala da “Bebel” (esposa) ou pajelança na fala da “Nenén” (sogra). Dá para imaginar a cena? Um grupo fantasiado de índio dançando em volta de um sofá com o tal Agostinho. Esta foi a “homenagem” do popular programa ao indígena brasileiro no dia a ele dedicado. Como classificar esta "homenagem"?


O indígena brasileiro, quando é alvo de entrevista jornalística ou mesmo de outras abordagens em que é o próprio narrador, não se exime; não usa metáforas ou conceitos rebuscados para apontar o causador de seus males: o branco. E não estamos falando de indígenas sem contato com os saberes da “civilização”. Os que assim falam são lideranças comunitárias e políticas de diversas formações, dirigentes de órgãos públicos e associações privadas.

Arrisco dizer que nunca se fez publicamente, na grande mídia, qualquer menção ou insinuação ao indígena quanto a suas antipatias como sendo expressões racistas passíveis de alguma punição administrativa, política ou criminal.

Quando se trata de um negro fazer menção a situações racistas que promoveram ou mantém a sua exclusão ou desigualdade de tratamento e de oportunidades o comportamento da grande mídia é outro. Não se entrevistam negros para saber o que os brancos provocaram como danos a sua dignidade e direitos.

O conflito, a apropriação e a espoliação ao negro são compreendidos como acontecimento social ou fato histórico ultrapassado, sem conseqüências na vida atual!

Hoje o negro, deve exprimir-se em termos adequados a “sua cidadania” - porque ao indígena não lhe dão este direito - em termos próprios ao efeito de escamotear a sua exploração.

Ao negro não se permite expressar como ao índio: “o responsável foi o branco”.

Ao negro se exige expressar como o próprio branco: “foi o homem no limite de sua civilidade que traficou, explorou, matou e criou um ser despedaçado que sequer pode dar cor e nome ao seu algoz”.




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