A paz armada: modelo de guerra para as comunidades antes dominadas pelo narcotráfico e pelas milícias
Pelo que se luta no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro? O que se busca com a conquista dos territórios sob o controle do tráfico? O que pode estar por trás disso?
A invasão por forças policiais e militares dessas duas comunidades pobres e gigantes na cidade do Rio de Janeiro que são fortes redutos do tráfico de drogas praticamente parou por três dias a cidade perplexa diante das imagens mostradas pela televisão.
A grande mídia se fez presente armada de câmeras com lentes potentes e repórteres a bordo de helicópteros e por terra era apoiada por veículos com pessoal técnico e equipamentos de transmissão. Um pequeno batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafista das redes de TV transformaram a cobertura jornalística num espetáculo. Ao mesmo tempo, este espetáculo era também uma simulação da realidade ou como me indicou um comentário atento, uma "operação psicológica" (OpPsi).
A grande mídia se fez presente armada de câmeras com lentes potentes e repórteres a bordo de helicópteros e por terra era apoiada por veículos com pessoal técnico e equipamentos de transmissão. Um pequeno batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafista das redes de TV transformaram a cobertura jornalística num espetáculo. Ao mesmo tempo, este espetáculo era também uma simulação da realidade ou como me indicou um comentário atento, uma "operação psicológica" (OpPsi).
Mudanças de conceitos significam mudanças de estratégias, ainda que as táticas possam permanecer as mesmas. Foi o que ocorreu quando o governo do estado do Rio de Janeiro aliou-se à midia para montar o espetáculo de combate às drogas na cidade com a invasão da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão. A estratégia foi o espetáculo montado, uma farsa, uma repetição da história que confirma a incompetência do Estado em lidar com a população mais pobre. Essa é uma das questões de fundo que pouco a pouco aparece entre as imagens espetaculares e o discurso triunfalista da mídia interpretando a sucessão dos fatos.
O governo do estado do Rio de Janeiro foi surpreendido e forçado a conduzir uma ação repressiva policial necessária, mas que pune também os moradores colocando-os no mesmo plano de suspeição. O governo estadual de contra-peso ainda tentou se eximir das responsabilidades atribuindo as causas a governos passados. Com a expressão eufemística de "conquista de território" o governo estadual tenta redefinir uma estratégia para lidar com o crime, mas na verdade, é a relação com a população mais pobre que não muda com o Estado não abrindo mão do recurso à violência.
"A limitação intrínseca do mercado de drogas tem sido considerada um dos fatores incentivando a procura de outras fontes de rendas por parte de traficantes. De fato, a possibilidade de obter renda a partir do controle da oferta de serviços tais como eletricidade, gás, e mesmo televisão a cabo, ajuda a diluir os custos operacionais do tráfico, aumentando a rentabilidade de um dos principais insumos deste comércio que é a violência.” ("A economia do tráfico na cidade do Rio de Janeiro" - Secretaria Estadual de Fazenda do RJ)
Primeiro ato.
O Rio de Janeiro viveu nas últimas semanas de Novembro uma situação sem precedentes na sua história, na sua cronica policial e no papel que a mídia desempenha na transfiguração da realidade.
O Rio de Janeiro viveu nas últimas semanas de Novembro uma situação sem precedentes na sua história, na sua cronica policial e no papel que a mídia desempenha na transfiguração da realidade.
A cidade sofreu com uma onda de atentados contra a população: incêndios a ônibus e carros e ataques a policiais como resposta do crime ao combate do tráfico de drogas pela polícia e a isso somando também as disputas internas da rede do tráfico pelo controle de novos "territórios" na cidade.
Duas linhas de observação desses acontecimentos se intercruzam para interpretação dos fatos: uma, aponta para uma aliança entre setores policiais interessados em afastar ou reduzir o “território” do Comando Vermelho (CV) em favor de outras organizações criminosas como o Terceiro Comando (TC), os Amigos dos Amigos (ADA) e as milícias formadas por policiais e ex-policiais. Esta versão é sustentada por exemplo pelo ex-delegado e ex-deputado estadual Helio Luz e pelo antropólogo Luis Eduardo Soares ex- Coordenador de Segurança no estado do RJ e ex-Secretário Nacional de Segurança Públical entre outros especialistas em segurança pública.
A outra linha de observação, também apontada por estes dois especialistas entre outros, foca o desempenho e o papel da mídia na cobertura desses acontecimentos. Esta versão aponta a mídia como montando uma farsa junto com o governo estadual para passar a idéia de que se promove uma guerra contra o crime e o tráfico de drogas. Esta segunda versão é mais poderosa e intrigante porque é também, naturalmente, o discurso oficial. Entretanto, em todas estas perspectivas se trabalha com a certeza de que o mercado de drogas é inevitável e incontrolável. Parte do que se combate é a forma como ele está atualmente estruturado e distribuído entre as facções, as disputas internas, e a forma de administrar tudo isso envolvendo por um lado os interesses legalistas e os interesses corruptos da polícia, dos políticos e do Judiciário e da sociedade com seus diversos grupos de opinião.
Contudo, existe uma lógica que acompanha tudo isso, é a poderosa economia do crime ocupando espaços da economia formal e impedindo o seu livre fluxo. Diante da economia nacional e local aquecidas e impulsionado pelos eventos internacionais da Copa do Mundo de Futebol (2014) e Olímpíadas (2016) apenas estas duas comunidades e seu entorno - Complexo do Alemão representam um mercado estimado de cerca de 500 mil pessoas, contudo, sua área de influência dominada pelo tráfico e pelas milícias é muito maior. Portanto, os interesses vão muito além da venda e circulação de drogas ou disputas de traficantes, achaques a consumidores, corrupção policial, tráfico de armas e suas redes e conexões com a banda podre do Estado. Há uma importante parcela economia controlada ou sob ameaça pelo crime que se desenvolve em comunidades pobres. Mas, há sobretudo, fora do controle um potencial de mercado a ser ocupado pela economia formal, pela sociedade e pelo Estado. A luta contra o tráfico de drogas armado e perigoso é a cena mais visível do espetáculo da guerra ao crime organizado com suas redes organizadas pelo Estado e fora dos limites da favela.
Contudo, existe uma lógica que acompanha tudo isso, é a poderosa economia do crime ocupando espaços da economia formal e impedindo o seu livre fluxo. Diante da economia nacional e local aquecidas e impulsionado pelos eventos internacionais da Copa do Mundo de Futebol (2014) e Olímpíadas (2016) apenas estas duas comunidades e seu entorno - Complexo do Alemão representam um mercado estimado de cerca de 500 mil pessoas, contudo, sua área de influência dominada pelo tráfico e pelas milícias é muito maior. Portanto, os interesses vão muito além da venda e circulação de drogas ou disputas de traficantes, achaques a consumidores, corrupção policial, tráfico de armas e suas redes e conexões com a banda podre do Estado. Há uma importante parcela economia controlada ou sob ameaça pelo crime que se desenvolve em comunidades pobres. Mas, há sobretudo, fora do controle um potencial de mercado a ser ocupado pela economia formal, pela sociedade e pelo Estado. A luta contra o tráfico de drogas armado e perigoso é a cena mais visível do espetáculo da guerra ao crime organizado com suas redes organizadas pelo Estado e fora dos limites da favela.
Quando a “mídia” fala em crime organizado e estado paralelo nas áreas de exclusão ela está desinformando o povo. Não é lá que eles estão! (Hélio Luz, veja o artigo aqui.)
Segundo ato.
O governo estadual e federal responderam aos atentados de forma inédita empregando um contingente surpreendente de tropas policiais e das Forças Armadas (Exército e Marinha) invadindo os redutos criminosos instalados na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão dominados pelo CV. Parte da opinião pública temia que houvesse um confronto e massacre contra os criminosos e a população local como aconteceu em 2007. mas isso acabou não acontecendo, porém o temor serviu para manter a sociedade alerta e talvez um pouco mais reflexiva diante dos acontecimentos.
O governo estadual e federal responderam aos atentados de forma inédita empregando um contingente surpreendente de tropas policiais e das Forças Armadas (Exército e Marinha) invadindo os redutos criminosos instalados na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão dominados pelo CV. Parte da opinião pública temia que houvesse um confronto e massacre contra os criminosos e a população local como aconteceu em 2007. mas isso acabou não acontecendo, porém o temor serviu para manter a sociedade alerta e talvez um pouco mais reflexiva diante dos acontecimentos.
Alguma reflexão pela sociedade é o que se espera diante desses graves acontecimentos em que devemos lembrar que estamos sob um período democrático onde a reflexão deveria ser mais proporcionada pela diversidade de opinião dos grupos sociais do que por motivação do monopólio da mídia por grandes grupos econômicos. Apesar disso, através das redes sociais na internet se formou um outro fluxo de informações que furou o monopólio das redes empresariais de comunicação. Uma rede de comunicação que se não competia com ela demonstrou uma enorme capacidade de mobilização, vigilância cidadã e expressão democrática.
Mas sobre quais aspectos deveria se debruçar nossa reflexão, sobre qual camada da realidade? Uma Reflexão sobre a omissão histórica do Estado junto àquelas populações pobres? Ou uma reflesão sobre a produção de realidade que a mídia promove? Ou pensarmos que é possível fundir todos esses elementos e moldá-los em camadas produzindo uma realidade difusa e acessível apenas nas suas imposições de evidências?
A ação militar espetaculosa feita pelo governo estadual na “conquista do território” antes dominado pelo crime se destacou também pelo uso de uma linguagem de guerra no clima de confronto alimentado pela mídia e por outro lado, diante das demonstrações de força da ‘tropa’ do CV. Ao fim da "invasão e conquista" do reduto dos criminosos, o antecipado massacre dos bandidos acabou não acontecendo. Isto tanto frustrou alguns como foi um alívio para muitos, o que não deixa de surpreender acostumados como estamos com a tradição da violência policial contra bandidos e pobres. Apesar do peso de "culpa" que recai sobre esta população de ser fornecedora da mão de obra do crime. há ainda além disso um forte crescimento de uma "cultura do banditismo" mesclada com a cultura da periferia com os bandos criminosos promovendo festas comunitárias que estimulam a formação de grupos simpatizantes entre o mais jovens.
Para manterem seu poder e apoio a rede do tráfico de drogas movimenta também uma ampla rede econômica, política e social da qual os narcotraficantes contam para se suprir com a prestação de serviços aos seus integrantes como alimentação, transporte, insumos de refino, embaladores de drogas, imóveis para instalações, manutenção de armas, etc. Além disso, há os subornos para policiais e políticos, laços de solidariedade local, além dos interesses políticos eleitorais e também as relações e o controle de associações comunitárias. Nestas comunidades abandonadas pelo Estado são em grande parte os narcotraficantes quem promovem atividades de lazer como os ‘bailes funk’, pagodes, futebol, shows musicais e quem contribuem para as muitas comemorações comunitárias onde se valem do assistencialismo como forma de relacionamento que vão servir de complemento à "ditadura do tráfico de drogas". Visto de outra forma, ocupam um amplo espaço vazio deixado pela omissão do Estado e da incapacidade de agir da sociedade.
Este longo e íntimo contato das comunidades pobres com o crime desenvolveu ao longo de décadas uma forte ‘cultura da marginalidade’ simpática ao banditismo e às facções do crime que envolvem não apenas os excluídos sociais mas que também atrai setores de classe média, artísticos e do futebol ao menos no Rio de Janeiro.
Chegada dos tanques dos Fuzileiros Navais no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro
A invasão do Complexão do Alemão no domingo (28/11) depois de vencida a batalha na Vila Cruzeiro no sábado (27/11) se tornaram os espetáculos noticiosos daquele fim de semana. Os acontecimentos foram destacados num clima sensacionalista ocupando espaços da programação diária com transmissões ‘ao vivo’ com ênfases no ineditismo das operações policiais e com previsões alarmantes de confrontos, apreensões de drogas e armas, esconderijos, fugas, como o desenrolar de uma novela. O espetáculo jornalístico era apresentado com toda ênfase pelos âncoras dos telejornais insistindo-se bombásticamente de que aquela era “a melhor oportunidade de acabar com o crime e o tráfico de drogas na cidade”. Já na segunda-feira, com a invasão estava consumada findo o espetáculo “segue a vida” com a mídia e as autoridades preocupadas em reverter o clima de tensão e expectativas duvidosas criadas por elas mesmas, procurando que a vida da cidade voltasse ao clima normal.
Narcotraficantes no Complexo do Alemão: armados e perigosos na defesa do seu território contra rivais
Terceiro ato.
A manipulação dos fatos durante a preparação policial foi essencial para envolver a opinião pública e a população local colocando-a numa posição de colaboradora compulsória: ou se está com as forças policiais ou se está contra ela. A população acuada gritava silenciosa por socorro acenando panos brancos ou escondida em casa nas ruas apenas circulavam bandidos armados e em fuga com as forças policiais ostensivamente armadas e repórteres que transmitiam seu show de notícias e comentários.
A manipulação dos fatos durante a preparação policial foi essencial para envolver a opinião pública e a população local colocando-a numa posição de colaboradora compulsória: ou se está com as forças policiais ou se está contra ela. A população acuada gritava silenciosa por socorro acenando panos brancos ou escondida em casa nas ruas apenas circulavam bandidos armados e em fuga com as forças policiais ostensivamente armadas e repórteres que transmitiam seu show de notícias e comentários.
A participação da mídia, em especial da Rede Globo foi crucial para o “sucesso” da operação policial. Do ponto de vista da audiência, o espetáculo era promissor e num cenário perfeito para as cenas realismo trágico, o exótico ambiente das favelas, o inimigo íntimo da cidade que ingressa nas casas de classe média e rica pela entrada de serviço. O espetáculo da realidade que se podia assistir ao reverso saindo pela porta de serviço, voltando no transporte público abarrotado e retornando às suas casas que tinham agora sua intimidade revirada pelas lentes das câmera de televisão e tornadas um espetáculo para ser visto do sofá.
Esta era a intimidade máxima que se tinha com um imenso contingente de população pobre dominada pelo poder paralelo do tráfico e ainda preocupada com as ações de retaliação que poderiam atingir a classe média e junto a isso os investimentos públicos para as grandes obras de melhorias públicas já em andamento naquelas comunidades. Junto a tudo isto, o emergente mercado das classes populares.
Esta era a intimidade máxima que se tinha com um imenso contingente de população pobre dominada pelo poder paralelo do tráfico e ainda preocupada com as ações de retaliação que poderiam atingir a classe média e junto a isso os investimentos públicos para as grandes obras de melhorias públicas já em andamento naquelas comunidades. Junto a tudo isto, o emergente mercado das classes populares.
A forma de operar da mídia com as suas diatribes políticas de manipulação da audiência apelando para o sensacionalismo e o indisfarçado preconceito é a mesma de sempre. Preparando psicologicamente ou justificando as ações arbitrárias e violentas, a mídia passou a veicular notícias sobre a possibilidade de que as perda de vidas inocentes seriam “efeitos colaterais” citando as “baixas de guerra” como inevitáveis ao confronto na guerra contra o crime. E preparando ainda os incautos sobre os saques a moradores, desvios de drogas, armas e dinheiro do tráfico como se fossem “espólio de guerra”. Usando uma linguagem que favorecia ao clima de vingança e de isenção das responsabilidades sobre as vítimas como baixas necessárias da guerra contra o crime pela “invasão das forças do bem” para conquistar o domínio do “território em poder das forças do mal”.
BELTRAME: As pessoas que trabalham para o tráfico e não têm antecedentes criminais. Elas podem passar caminhando que você não vai poder prendê-las. Temos que cumprir a lei. O cara só é bandido se for preso em flagrante ou procurado pela Justiça. (Entrevista do Secretário de Segurança do RJ publicada no Globo On line)
É sabido que são nestas comunidades pobres que se encontra a disponibilidade de força de trabalho tanto para o crime como para todos os serviços menos qualificados e de baixa remuneração que a cidade utiliza. São nestes territórios favelados da cidade que está a massa mais disponível para o subemprego, o trabalho informal, para o trabalho na construção civil, nos serviços de limpeza, empregos domésticos, trabalhos que são majoritariamente feitos por negros e migrantes nordestinos.
São ainda estas comunidade periféricas da Cidade Maravilhosa que sustentam sua imagem alegre e folclórica que compõe o cenário de fundo da indústria do carnaval e são fonte da sua identidade cultural. Ao mesmo tempo, essas comunidade são os alvos diários por parte da mídia e da maioria da população de ataques, preconceitos, discriminações que produzem o efeito de conter a rebelião possível ou imaginada “se a favela descer...”. Mas é na violência policial que ocorre a grande contenção contra a “rebelião” da pobreza pela violência praticada pelo Estado por sua omissão e conivência com o banditismo que perdura por gerações nestas comunidades. Bastaria entrevistar qualquer morador para conhecer os ressentimentos, os efeitos do abandono, as carências... Nessas horas de comoção não se viu entrevistas com as lideranças das favelas que são ouvidas apenas quando servem para legitimar alguma ação repressiva ou agradecer aos políticos suas migalhas. Poucas vezes os moradores são ouvidos sobre suas próprias necessidades ou para opinar sobre os melhoramentos que são propostos.
Recentemente as UPPs foram apresentadas como solução para “livrarem” as comunidades do tráfico de drogas, hoje sabe-se que elas servem apenas para acomodarem uma situação que possui raízes que não se resolvem com forças policiais servindo mais para iludir a opinião pública e retardar as soluções duradouras.
"Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias."(Luis Eduardo Soares, especialista em Segurança Pública)
A criminalização da pobreza e o tratamento da questão social como caso de polícia é a mais antiga e eficiente estratégia do poder para lidar com a população pobre. As formas extremas de exploração do trabalho e de contenção das reivindicações sociais produzidas pela exclusão social entre a população favelada é melhor contida na base da repressão policial ou através dessa ameaça. É assim que tradicionalmente o Estado se relaciona com estas populações, ao que se soma a política de conta-gotas de serviços públicos por força do assistencialismo político e da cooptação de lideranças. O domínio do tráfico e de outras formas de crime é apenas uma consequencia disso. Agora as forças repressivas contam com mais um poderoso aliado, as milícias que sucedem os ‘esquadrões da morte’ e trabalham como um Estado pararelo, com integrantes do próprio Estado e seus recursos como o treinamento militar e informação. Assim policiais e ex-policiais usam as mesmas táticas e estratégias dos narcotraficantes para o domínio local e praticam a coação, a violência e a extorsão como a máfia e exploram serviços clandestinos e o comércio de drogas formando um negócio milionário.
“A Oi acredita que o funk também é uma ferramenta de inclusão social e que, ao apoiar a Furacão 2000, está dialogando mais de perto com as comunidades que produzem essa manifestação cultural que é a cara da Oi: ousada, livre e cheia de bom humor”, defende a diretora de Comunicação de Mercado, Flávia da Justa.(AdNews)
O mercado ascendente das classes populares é a outra questão de fundo que surge entre as imagens realistas e espetaculares da cobertura midiática. Estes "territórios" dominados pelos narcotraficantes e milícias representam um mercado de consumo potencialmente bilionário que está assim sendo conquistado para integrar a grande sociedade de consumo devido ao seu poder de compra aumentado nos últimos anos, porém geograficamente dominado pelo crime organizado. O que impede que as empresas transitem com facilidade, inibe novos empreendimentos e desvaloriza os imóveis na região.
Complexo do Alemão é uma "cidade" de cerca de 400 mil moradores que se expande sobre 10 bairros
A ocupação do Complexo do Alemão e da vizinha Vila Cruzeiro com uma área de influência sobre dez bairros envolvendo cerca de 400 mil moradores é como uma telenovela da vida real. De um lado um enredo conhecido do bem contra o mal, de outro a audiência, que somos todos nós. Os mocinhos querem nos fazer crer são o Estado, a polícia e as pessoas que se dispuserem a fazer parte do jogo imposto ou da farsa, se preferirem. Do outro, os bandidos, a rede criminosa. Dependendo da conveniência de cada um e dos discursos do momento e dos interesses em jogo, o bem e o mal caminham juntos, são parceiros e trocam figurinhas, recorde-se como se mantém o jogo do bicho e o desfile das Escolas de Samba no Carnaval do Rio.
"O presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, acredita que a classe C, "que chega com toda força ao mercado de consumo", está impulsionando o aumento do consumo de produtos piratas no Brasil, mas o hábito se alastra por todas as classes sociais e faixas etárias. A instituição divulgou hoje pesquisa sobre a pirataria, mostrando que 70,2 milhões de pessoas consomem produtos piratas no Brasil, ou 13,8 milhões a mais do total que compravam esses produtos em 2006." (O Estado de São Paulo - 30/11/2010)
O Estado omisso, estaria agora sendo pressionado pela necessidade de expansão dessa nova fronteira de consumo que inclui esta parcela da população que sempre esteve à sua margem. Para tanto é necessário que esta inclusão se fizesse de uma forma simbólica e espetacular. Segundo um estudo da Secretaria de estadual de Fazenda o faturamento anual apenas da venda de drogas na cidade é superior a 1 bilhão de reais anual. Somado a isso, os demais negócios controlados pelo tráfico e pelas milícias atingem cifras astronômicas sem estimativas seguras e sem impostos. Para a opinião pública, é mais simples que seja passada a imagem novelesca de uma luta entre bandidos e mocinhos, do bem contra o mal sobre uma população refém do tráfico. Oculto por este enredo, existe uma realidade que representa cerca de 20% da população da cidade algo em torno de 1 milhão e 200 mil moradores e que possui uma renda bilionária com um potencial de mercado que foi fortalecido e está em expansão e que não pode mais ser ignorado. Na falta de políticas públicas eficazes ao longo do tempo criou-se uma território de exclusão e de celeiro do crime que hoje se tenta maquiar com políticas públicas emergenciais e ações policiais espetaculares para ludibriar a todos. E neste ‘cenário de real valor’ a mídia aproveita-se para reafirmar seu poder de envolvimento, sedução e conquista de ‘corações e mentes’.
Abaixo, alguns trechos de mensagens dos leitores do Globo On line publicados no site do jornal em 28/11 que representam o efeito esperado na população.
“Parabéns, polícia carioca!
Vocês são uns bravos!”
“Cerquem bem todas as passagens possíveis e impossíveis
As forças militares não podem recuar no que se propuseram.”
José Ricardo
@josric
2 comentários:
Muito Show a matéria. Parabêns Ricardo. E agora? Como fazer parar toda essa estética?... Era notável e revoltante a atuação da mídia, a forma como o Estado era incluido como bom moço. Engraçado que atrás dessa ação do Estado, cada foto tirada por glória, revela/demostra a omissão. Ex: foto do BOPE no caveirão, e no fundo uma rua sem seneamento básico. O problema é que o pintor induz os traços que pretende mostrar, né?...
Cada vez mais me desanimo com o mundo!
Se os moradores dos morros cariocas fossem violentos o Rio já teria sucumbido, afinal moram em uma zona de exclusão do Estado. É lamentável que a população pobre que mora nas favelas tenha que passar por isso.
http://aulaslurdinha.blogspot.com
Seguirei seu blog
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