19.4.11

Google homenageia Monteiro Lobato no Dia Nacional do Livro Infantil

O Google homenageou Monteiro Lobato no Dia Nacional do Livro Infantil que é comemorado neste 18 de abril em meio a controvérsia sobre a exigência de uma nota de advertência contextual sobre expressões racistas utilizadas em sua obra.


Se fosse realizada no Brasil uma pesquisa sobre a substituição das expressões racistas na obra infantil de Monteiro Lobato Caçadas de Pedrinho por outras expressões que não violassem a dignidade dos negros, qual seria o resultado previsível?

Nos EUA há pouco mais de um mês foi realizada uma pesquisa para saber o que a população pensa a respeito da substituição da palavra racista nigger, um termo depreciativo para a dignidade do negro norte americano, por slave (escravo) no fasmoso clássico da literatura: As aventuras de Huckleberry Finn de Mark Twain.
A pesquisa que foi mais abrangente, incluia questões sobre a presença em bibliotecas escolares de livros religiosos como a Bilblia, o Alcorão e o Torá e ainda sobre o Evolucionismo, teoria que contraria as crenças religiosas sobre a origem humana.
A aceitação por exemplo dos livros religiosos é, poderíamos dizer, relativamente proporcional ao número de adeptos ou simpatizantes dessas religiões.
Junto ao tema religioso, outros temas foram pesquisados e tiveram percentuais aproximados de proibição  como vampiros ou bruxaria, drogas ou álcool, sexo, violência e palavrões.

Como supus no início, se uma pesquisa semelhante fosse feita no Brasil, pouparia talvez Monteiro Lobato, ao contrário dos EUA com Twain,  do veto às suas expressões racistas na sua obra infantil. Especulo com ironia este resultado sobre uma hipotética pesquisa pelo que parece óbvio para os que defendem o veto: o racismo no Brasil é muito eficiente, é aquilo que previu Lobato como dizia sobre sua literatura, a melhor via para “um processo indireto de fazer a eugenia”, isto é, eliminar os negros.(1)

Por isso, creio que Lobato seria poupado pelas gerações hoje adultas (além das que ainda continuam sendo formadas por sua obra racista) educadas lendo em seus livros as expressões racistas contra o negro como se fossem naturais e que certamente não adquiriram uma visão crítica suficiente para interpretar as idéias nada sutis do racismo explícito nelas. Além disso, o que a escola reproduz, também ocorre no âmbito da família, na vida pública (no trabalho, na rua, etc.) e na mídia onde também se propagam os mesmos estereótipos racistas que produzem a "invisibilidade social do negro".

Em 2002 foi instituído por decreto do Presidente Fernando Henrique Cardoso para o dia do nascimento de Monteiro Lobato (18 de abril) como o Dia Nacional do Livro Infantil para homenageá-lo. Naquela ocasião a polêmica que cercou a obra infantil de Lobato ainda não tinha adquirido consistência que possui hoje.


Mark Twain nos EUA o termo pejorativo nigger será substituído por slave

Nos EUA contudo, uma nova edição da NewSouth Books modificou mais de 200 palavras da obra, publicada pela primeira vez em 1884. A NewsSouth Books justificou as mudanças como uma "alternativa para professores que queiram usar o livro em sala de sala, mas não podem apresentar a versão original por conta das pressões de pais e administradores pela exclusão de livros." 

Uma medida semelhante é o que se debate no Brasil´, sendo esta mudança o que visa o parecer do Conselho Nacional de Educação, um orgão de apoio ao Ministério da Educação que advertiu para as alterações necessárias nos livros de Lobato.

Apesar de ter sido esta matéira da pesquisa nos EUA noticiada no Globo, o jornal tem preponderantemente dado mais apoio ao conservadorismo racista do que às mudanças necessárias à eliminação das fontes do racismo. Posição que se torna mais suspeita e anti-ética para esta empresa de comunicação na medida em que a editora de Monteiro Lobato faz parte do grupo empresarial do jornal.

Ainda no dia 18 de abril, a gigante da internet Google também resolveu homenagear o "Pai da Literatura infantil brasileira" Monteiro Lobato apresentando um Doodle em sua homenagem. 

Numa postagem na rede AFROKUT - Negros e Negras Cristãos  Hernani Francisco da Silva apresentou as mensagens trocadas com um porta-voz da Google sobre tal homenagem, observando a polêmica sobre o racismo de Lobato e que em 20 de novembro o herói nacional brasileiro negro Zumbi não havia sido homenageado.

A iniciativa do bloguista Hernani vem ao encontro de tantas outras iniciativas que buscam combater o racismo,    bem como é exemplar por exigir um tratamento adequado e justo para a cultura brasileira por uma empresa de mídia internacional. Tendo ele observado que em 20 de novembro de 2008 o Google preferiu homenagear Renné Magritte, um pintor francês em vez do herói brasileiro  Zumbi dos Palmares.

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