Trailer do filme Raça
Raça o novo filme de Joel Zito em parceria com Megan Mylan é um documentário sobre a luta de três negros empenhados em resgatar a dignidade de seu povo comprometidos com as lutas por reparações históricas do legado da escravidão. Raça é um filme didático, daqueles que deveriam estar disponível no acervo das escolas do país e nas aulas de história, muito mais agora com a lei do ensino da história e da cultura negra. O filme tem algumas legendas e fotos para acentuar um certo aspecto dramático do passado, mas faltam as legendas para alguns dos personagens atuais, alguns daqueles que se tornaram inimigos das lutas do povo negro. Heróis e inimigos devem ter seus nomes lembrados para ficar na nossa memória. o exemplo de uns e a vilania dos outros.
Netinho, um dos personagens é documentado na sua força para colocar no ar a TV da Gente, ele diz: "o que fizeram da gente na televisão?". Ou melhor, que negro é esse na televisão brasileira que mais parece uma TV na Europa?
O Senador Paulo Paim é mostrado na sua angústia em aprovar o Estatuto da Igualdade Racial que tramitava há 10 anos no Congresso e se encontra submetido à canalhice dos senadores representantes da bandidagem histórica incrustada no poder. Acaba-se por aprovar um Estatuto desfigurado e fraco.
A outra personagem do documentário é Miúda dos Santos, neta de africanos escravizados e ativista quilombola em sua luta de formiguinha contra a predadora Aracruz Celulose que tomou as terras da sua comunidade para plantar árvores que viram papel. A participação da CONAQ - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - é mostrada no seu apoio fundamental suporte jurídico e político, "o mínimo necessário" diante da gigantesca empresa Aracruz com seu exército de advogados e seus artifícios jurídicos que fazem a justiça dos poderosos se perpetuar sobre os direitos constitucionais dos quilombolas. E de alguma forma podemos perceber no relato dos quilombolas a passagem da vida humilde e até ingênua do povo negro, das suas aspirações simples, da nostalgia de uma vida que ficou para traz junto com a mata derrubada, os animais selvagens correndo soltos e os pássaros que sumiram com a mata. A inocência perdida para o jogo bruto e pesado do lucro empresarial.
Netinho, como todo busines man fala ao celular enquanto dirige seu carro e vê tv, uma temeridade que não é nada didática da vida dos negócios para a juventude que precisa assistir ao filme. Talvez também seja didático para os neófitos da política como os políticos se tratam: afagos e amabilidade entre o vampiro e a sua vítima, Demóstenes, o canalha cassado que também disse a pérola racista do "estupro consentido da mulher negra que povoou o pais de mestiços".
Netinho é popular por dizer coisas simples, diretas e até suaves pelo seu jeito de ser, ele diz que sua TV é para os negros do nosso país se conhecerem. Tem toda a razão, ele sabe da importância da mídia no presente e no futuro próximo.
As mensagens do filme são simples: a luta é difícil e deve continuar. Arrisco duas lições deixadas pelo documentário Raça que aponto sem as ambiguidades e a calhordice que geralmente cercam essas afirmações: o sincretismo e a mestiçagem não se constituem em um problema para a identidade negra. Assistam ao filme para entender, afinal, raça é uma metáfora.
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