Iniciativas de críticas a propagandas, programas de TV, distorções e parcialidades no noticiário da mídia são hoje mais eficientes devido a internet através de sua progressiva popularização tornando-a mais permeável e forçando o alcance da democracia e da pluralidade em diversas mídias. Este tipo de ação por meio da Internet como veículo de mobilização e protesto se caracteriza como um modo novo de fazer política conhecido como ciberativismo.
O clipe publicitário Bombril/Pelé veiculado na TV é um caso ilustrativo deste modo complementar de fazer política, inclusive para o movimento negro. A mobilização foi iniciada por ativistas em grupos virtuais mobilizando opiniões, despertando as consciências ou provocando até mesmo para alguns o estranhamento ou simples descrédito para outros.
Esta iniciativa resultou (ao que parece) na substituição do anúncio – “Pelé, o Bombril do futebol” pelo “Só Pelé é Pelé. Só Bombril é Bombril”. A diferença nem é tão sutil, onde se supôs um lapso racista no primeiro clipe sugerido pelo “Bombril do futebol”, o que instiga o imaginário negro para as associações racista sobre os cabelos crespos, no segundo não há qualquer possível insinuação ou lapso o que torna o anúncio correto e sem ambigüidades.
Este tipo de iniciativa tem um duplo efeito positivo sobre a sociedade: cuidam os ativistas promotores dessas ações críticas da dignidade do povo negro, combatendo e corrigindo as ambigüidades do discurso publicitário por um lado. Por outro, possibilitam e contribuem para que estas empresas ao corrigirem-se melhorem seu posicionamento com a sociedade.
Estas iniciativas espontâneas de vigilância crítica ainda que pouco estruturada politicamente, mas conduzidas por ferramentas de comunicação de massa, ampliam ou potencializam seus efeitos e eficácia. E dessa forma realiza uma das vocações do movimento negro que é a atitude vigilante para a proteção da dignidade da imagem do negro. E neste caso ainda, da imagem pública de Pelé que se tornou há muito um ícone negro de várias dimensões por sua figura pública, personalidade, desportista, empresário, político, entre outras. Ao intervir e, sobretudo produzir os efeitos desejáveis, o movimento negro resgata um potencial de (des)crédito em relação ao menos a uma dessas dimensões, a figura pública de Pelé. Aquela que não mais o pertence, mas, que na sua dimensão simbólica é apropriada em alguns aspectos pela ação do movimento negro para resgatá-la na sua dignidade e respeito pelo que ela precisa conter de valores para uma identidade positiva do negro.
Se comprovada que a substituição do clipe foi provocada pela reação do movimento negro vai-se além da especulação do fato. Contudo, o que está em evidência são as manifestações e os meios em que elas se processam gerando este tipo alternativo e novo de fazer política pelo ativismo virtual de militantes negros.
Veja aqui o primeiro clipe: "Pelé o Bombril do futebol".
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