A invenção do tipo mulato (*) atendia a uma heirerarquia de tipos raciais e de cor de pele criada por intelectuais europeus que idealizavam na miscigenação uma "qualidade" superior ao negro mas, inferior ao branco. A esta qualidade se atribuiu força, vigor físico e beleza exótica, bom para o trabalho e para fornicar.
Diferente da identidade negra que está referenciada nas culturas africanas, não existe uma 'identidade mulata' que seja reinvidicada por algum grupo social. A invenção do mulato atende ao pressuposto da exploração do corpo e do trabalho do negro como mais um artifício dissimulador através do exotismo e da exaltação da beleza negra por um forma envergonhada. A música popular e o próprio samba (*) se tornam veículos desta idéia exaltando o mulatismo como uma qualidade para atender a estes objetivos.
Nas primeiras décadas do XX com o samba conquistando o gosto popular durante a nascente sociedade de massa, o desfile das escolas de samba oferecia ao negro e à sua imagem como mulato uma expressão de visibilidade e integração social, já que ao menos durante este período de festa a polícia não perseguia tanto, políticos e bandidos se misturavam e a classe média aplaudia, é o carnaval!
Com a sociedade de massa consolidada e a mídia (*) orientando as relações sociais, vivemos agora uma época em que os negros buscam ser protagonistas de sua própria história. Por este papel dominante desempenhado pela mídia, os jornalistas se tornaram novos ideólogos da identidade nacional. E de acordo com a visão colonizadora reafirmam a figura do mulato sensual associado ao carnaval e ao mesmo tempo o lugar (do negro) no imaginário social ligado ao trabalho, ao corpo e ao prazer revogorados também pela posição que tornou o carnaval um espetáculo controlado pela mídia.
A exaltação da beleza de mulatas e mulatos pela cobertura jornalística de carnaval da Globo e se confronta sua posição de negar ao negro talento suficiente para ser protagonista das suas novelas.
A iniciativa do jornalista Ancelmo Góis do jornal O Globo com o concurso "Mulata do Gois" ocorre pelo quarto ano e neste ano foi lançada ainda uma versão homem (ou uma versão para mulheres), o "Mulato do Gois": - “São pessoas muito bonitas e é orgulho nosso. Então, eu acho que faz parte da paisagem carioca, o Pão de Açúcar, o Corcovado e as mulatas” ... "São a cor do Brasil", diz, confira a entrevista. Numa outra entrevista ao Observatório da Imprensa em 27/03/2007 pelo lançamento da versão digital da Coluna do Góis, responde: O.I. - Quando entrou na rede? A.G. – Nós começamos no Carnaval, com uma superprodução para escolher a Mulata do Gois, fizemos uma votação, achamos que o Carnaval era um bom momento para começar porque tinha muito a ver com o Rio. Está indo muito bem, estou animado.
Os Mulatos do Gois não poderiam deixar de ser também os Mulatos da Globo, do Ali Kamel (editor de jornalismo) e sua tropa militante composta de alguns cientistas sociais, mulatólogos e mulatos convictos. Vale a pena destacar a frase de uma das candidatas à Mulata do Gois, Janaína, da Unidos da Tijuca: "Mulata já foi cor da pele; hoje é profissão", talvez isto, seja realmente mais coerente com o 'espetáculo'. De toda forma, o impacto e o efeito dos Mulatos do Gois/Globo confrontam com as aspirações da população negra e as posições do movimento negro quando reinvindicam reconhecimento e respeito para a sua identidade, cultura e direitos sociais.
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Um comentário:
Gostei da postagem. Realmente aquele repórter deveria ter mais respeito com a história do negro(a)s do Brasil. Vai ser recomendada no nosso blog.
abraços
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