O dia 13 de maio (1888) ficou marcado na nossa memória como o dia do fim da escravidão, da Abolição da Escravatura ou de proclamação da Lei Áurea como foi denominada pela história oficial e que foi por mais de meio século comemorado com a efígie da Princesa Isabel, a Redentora dos escravos.
Trabalho escravo e tortura: indisociáveis
Dois anos antes em 1866 em Chicago numa sequencia de acontecimentos no mês de maio, o movimento operário decretou uma greve de trabalhadores contra a jornada de 16 horas de trabalho pela de 8 horas. Durante as manifestações uma bomba foi jogada nos policiais por anarquistas matando um policial o provocou uma violenta repressão com dezenas de mortes de ambos os lados.
Em 1889 a Segunda Internacional Socialista reunida em Paris aclamou o dia 1º de maio como o dia de luta pela jornada de 8 horas de trabalho.
No Brasil, a República vem a reboque do fim da escravidão e o negro, o ex-escravo passa à condição de trabalhador livre e ainda é violentamente reprimido pelo Estado como potencial ameaça à ordem social.
As lutas de resistência dos escravos através dos quilombos, levantes e a luta política do movimento abolicionista feito por intelectuais e republicanos colocaram para as classes dirigentes a questão da ameaça daquela maioria negra, indígena e mestiça que se formara na base da sociedade. O Estado passa então a incentivar a imigração de grupos europeus para promover um equilíbrio populacional e um "embranquecimento" da população. Ao lado disso, Monteiro Lobato incorpora e traduz na sua obra infantil os ideias eugênicos de exterminação dos negros criando um consenso natural da depreciação do ser e da imagem do negro.
"Operários" de Tarsila do Amaral de 1933 retrata a classe operária industrial brasileira, o setor de trabalho mais desenvolvido onde o negro é minoria
O movimento operário brasileiro só se constitui efetivamente no século XX sendo composto em sua maioria pelo próprios trabalhadores europeus e seus descendentes e com forte influência anarquista, socialista e comunistas. Por seus interesses, como o privilégios no acesso aos postos de trabalho e à educação a maioria desses trabalhadores ignorava ou se omitia quanto às necessidades da população negra que criava à parte suas próprias formas de organização que vão tomando a forma de "manifestações culturais". Ainda minoria ou organizados à margem do movimento operário muitos trabalhadores negros participaram de diversas lutas operárias por melhores condições de trabalho e salários.
A luta do trabalhador negro é ainda uma história a ser reconstituída no âmbito da história do trabalhador brasileiro. E talvez o reconhecimento do 13 de maio ainda que não consagre o resultado de uma luta direta do negro não deixa de carregar um significado invertido. Esta inversão de significado do 13 de maio como um novo símbolo de resistência já foi feita pelo movimento negro ao longo dos anos 80 como o "dia da farsa da Abolição" para confrontar com o significado oficial fazendo emergir do esquecimento uma história de lutas e personagens negros esquecidos ou secundarizados.
Nesta crítica ao sentido oficial do 13 de Maio que também recupera a memória histórica e cultural marginalizada se transformam significados e cria novos sentidos é de onde se poderá extrair um conteúdo de novas inspirações e referências para as lutas políticas contemporâneas e para a própria construção da identidade do negro. E neste movimento resignificar uma história do trabalhador (homens e mulheres) negro na sua especificidade dada pelas formas de trabalho e das lutas de resistência que se deram à margem da história dos trabalhadores brancos ou que sob a sua hegemonia marginalizou aquelas formas e expressões de resistência.
Talvez assim se possa consagrar melhor esta ou outra data como um resultado das lutas diretas e contemporâneas pelo fim do racismo institucional que se desenvolve nas lutas pelo acesso pleno ao trabalho e equiparação salarial, pelo fim do racismo na educação, pelo fim do racismo na mídia, pelas cotas e pela reparação.
Revisado em 1/5/2011
Talvez assim se possa consagrar melhor esta ou outra data como um resultado das lutas diretas e contemporâneas pelo fim do racismo institucional que se desenvolve nas lutas pelo acesso pleno ao trabalho e equiparação salarial, pelo fim do racismo na educação, pelo fim do racismo na mídia, pelas cotas e pela reparação.
Revisado em 1/5/2011
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