17.8.10

Midiatização das eleições em 2010






Com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na tv para a eleição 2010 a midiatização das eleições se destaca como um fenômeno social importante mas que terá nestas possivelmente um papel menos decisivo diante da preferência já consolidada dos eleitores pela candidata do governo Lula, Dilma Roussef.


Passados 47 anos desde que o Código Brasileiro de Comunicações criou em 1963 o horário eleitoral gratuito na televisão as eleições parlamentares e executivas nos níveis federal, estados e municípios ingressaram numa nova era da comunicação de massa.
O papel da TV se tornou crucial para as comunicação entre os poderes e a população substituindo em grande parte o rádio e a imprensa e sobretudo transformando as relações entre os cidadãos e eleitores com os políticos e o governo.


A influência da televisão nas eleições, apesar de sua importância, é relativa. Pesam os fatores conjunturais  e mais ainda a agenda política criada ao longo do ano através dos noticiários, telenovelas, etc. Além disso, pesa também o papel complementar que as outras mídias, sobretudo, a internet que aumenta sua influência complementando a TV no reforço da agenda política.

A agenda política que predomina é a do interesse das grandes corporações nacionais e internacionais que estão cada vez mais equilibrados pelas características da economia globalizada e que possuem de certa forma uma agenda única pela defesa e expansão do mercado e pela financeirização da economia que são apresentados para a sociedade como espetáculos de consumo.

Sobretudo a televisão no Brasil após a ditatura militar, tornou-se também decisiva na construção da imagem do político que deve cada vez mais se parecer com um ator que cumpre um roteiro - a agenda política que a mídia constrói.

As eleições de Collor (1989) e FHC (1994 e a reeleição de 1998) são exemplares do poder e influência exercidos pela televisão. A isto se deve ainda acrescentar o papel desempenhado pelas televisões locais majoritariamente em mãos de políticos regionais e agora também das Igrejas católicas e evangélicas - com representantes parlamentares - que distribuem entre si as concessões que cabem ao Congresso e ao Executivo aprovar e outorgarem, e que são teoricamente públicas. Dessa forma, as Tvs locais encontram-se sob o controle dos mesmos grupos que sempre dominaram a política nos estados e municípios caracterizando um "coronelismo eletrônico".

Noutro sentido, o poder da mídia é auto-regulado, sobretudo em períodos eleitorais em que a exposição excessiva do candidato tende a saturação do eleitor, daí a sofisticação e importância do marketing político que faz a animação e a dosagem da imagem do político de modo a não entediar o público.

Na mídia, o político e a política são transformados em produto regulados por técnicas de propaganda alimentadas por pesquisas que determinam o caminho que serão adotados de modo a "agradar" aos eleitores, por isso, tanto a imagem como a plataforma política oscila procurando satisfazer a todos os públicos visados. 

Ora um político é a favor do controle do mercado, ora é a favor do mercado desregulado, da mesma forma oscilante, ambígua ou mesmo contraditória são apresentadas inúmeras questões polêmicas para a sociedade como a reforma agrária, redução da jornada de trabalho, segurança pública, meio ambiente, aborto, união homessexual, cotas racias, entre outras.

Com a midiatização da sociedade, a política tornou-se um espetáculo contínuo, as eleições são apenas um dos momentos máximos do show.

Nesta eleição de 2010, algumas características específicas da capacidade de influência da mídia estão mudadas. Primeiro, a ampla preferência pela candidata do Governo,  Dilma Roussef que vem tendo transferida para si o potencial de votos do Presidente Lula reduzindo a capacidade de influência direta da televisão. Por outro lado, o aumento da vigilância democrática com novos mecanismo de controle sobre as manipulações da televisão como exemplarmente ocorridos na campanha de 1989 no embate Lula x Collor e depois nas campanhas eleiroais de 1994 e 1998 entre Lula e FHC. 


Em segundo lugar, o papel da internet como um novo meio de propaganda e debates, circulação de idéias e posições políticas que apesar de seu papel ainda limitado nesta eleição tem uma crescente influência ampliando o fenômeno da midiatização das eleições. E com a universalização da internet novos segmentos sociais terão mais acesso à fontes independentes e plurais de opinião e informação aumentando a sua capacidade de escolha e reduzindo a pressão maciça da televisão.

Pode-se ressaltar ainda que, mantendo-se a tendência das últimas três eleições presidenciais em que o candidato eleito foi aquele que começou a propaganda eleitoral na televisão com uma significativa preferência na intenção de voto dos eleitores, fato que ocorre nestas eleições com a candidata Dilma Roussef do PT.

Desta forma, as eleições de 2010 apesar de sua crescente midiatização não está neste momento submetida ou ameaçada dado ao acerto das políticas governamentais tanto para os setores populares, de classe média como das elites que proporcionaram um amplo consenso em torno do Presidente Lula. 


Ao que tudo indica o poder pararelo da mídia hegemônica foi neutralizado inclusive pelo seu uso mais aprimorado pelas forças políticas que foram antes derrotadas com o seu uso desigual. Resta diante da midiatização incontrolável da sociedade não só sua expansão para todos os setores da sociedade como também da criação de mecanismo de regulação que assegurem sua distribuição adequada à diversidade social através não da representação fantasiosa que hoje é apresentada, mas da posse e uso democrático dos meios de comunicação de massa.

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