2.10.07

A lição da Imprensa Negra nos EUA

Imprensa Negra Americana: Um Combate sem Tréguas - “The Black Press: Soldiers Without Swords” de Stanley Nelson foi meu filme escolhido para assistir no Festival do Rio 2007 exibidos na mostra em sua homenagem. Após a sessão, ocorreu um debate com a jornalista Angélica Basthi (Cojira-rj), o professor Júlio Tavares (UFF) e a produtora Vick (organizadora do extinto festival Olhos Negros) e do próprio diretor do filme Stanley Nelson.

O filme apresenta uma trajetória da imprensa negra nos EUA desde seu aparecimento até sua quase extinção nos anos 60.



Mas, como foi possível em plena escravidão e num ambiente segregado, o surgimento da imprensa negra nos EUA, sua longa duração e sua quase extinção nos dias de hoje?

O filme aponta que foi a constatação da omissão sobre a vida do negro no noticiário da imprensa branca ou quando esta o retratava, apenas noticiando crimes ou ações repressivas o que impeliu a que alguns pioneiros afros americanos a criassem seus próprios jornais.

Esta é uma das questões que o filme ressalta com muita nitidez construindo um dos fios de sua narrativa. Fica demonstrado que através da visão e da iniciativa empreendedora destes pioneiros que compreenderam que só poderiam contar com os recursos de seu próprio povo.

Os jornais que foram surgindo num crescente até chegarem às centenas - 500 em 1920!

Eram impressos inicialmente em gráficas alugadas e vendidos nas ruas e nas regiões rurais por vendedores ambulantes (crianças, jovens, adultos). Assim, se viabilizou aquela imprensa como um veículo de comunicação importantíssimo no passado e que oferece hoje um documento único sobre um vasto período que se estendeu até os anos 60.

Desse modo, fica ressaltado para horror de muitos 'democratistas raciais' de hoje, o fator positivo da segregação racial nos EUA, que foi tornar possível a existência não só da imprensa negra bem como desenvolver a visão de seus pioneiros em torná-la sustentável, pois sabiam que não poderiam contar com anunciantes da economia dominante. Os jornais se mantiveram através da compra regular pelo leitor negro, despertando seu interesse, promovendo campanhas sociais por trabalho, educação, estimulando e orientando migrações para regiões prósperas e mais liberais na busca por melhores oportunidades e condições de vida. E mesmo no período de crescimento econômico apenas anunciava-se fora da comunidade negra os 'produtos para negros', cremes alisantes para cabelos, alguns serviços, etc.

O que pode e deve ser visto como uma lição para aqueles que confundem as estratégias com as ações políticas e estreitam as conexões com as iniciativas de negócios de empreendedores negros equivocadamente estigmatizados como oportunistas e aproveitadores.

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